logo

O dia em que descobri o metaverso e como ele me trouxe até aqui

Obirin Odara compartilha sua experiência pessoal de conhecer o mundo digital como uma mulher negra na sociedade atual.

TECHNOLOGY
PEOPLE

11 MINS READ

Virtual Reality Experience

DATE

JUNE 28, 2023

AUTHOR

Obirin Odara
SHARE

Este texto tem a intenção de fornecer algumas informações sobre o caminho que percorri para descobrir mais sobre o mundo digital e servir como um antídoto para aquilo que ainda não consegui encontrar. Percebi que estava diante de tantas inovações tecnológicas que estavam surgindo e impactando nossas vidas que não se restringiam apenas à ficção científica. Este é um compartilhamento de parte da minha história, como pessoa negra, mulher cis, 28 anos de idade, da diáspora. Sou filha de pai estofador com ensino médio completo e mãe dona de casa com ensino fundamental completo, nascida no Brasil. Falarei, sobretudo, pelas pessoas negras que, assim como eu, pensavam ou ainda pensam que a tecnologia é algo em que não podemos intervir e construir além do que já existe.

Meu nome é Obirin Odara, mas esse não é meu nome de registro. Ele faz parte do processo de ressignificação do meu lugar em um país racista com forte presença africana que existe no fenótipo, na cultura, no passado e, dada a nossa resistência ao processo colonial, de disputa no presente e construção do futuro. Como nos ensina Lélia Gonzales, "os negros têm que ter nome e sobrenome, senão os brancos vão inventar um apelido... ao gosto deles". Por isso, sou Obirin Odara, um nome iorubá que evoca minha feminilidade e minha força para além da sujeição que forjam sobre os negros e, sobretudo, sobre as mulheres negras.

Uma rápida pesquisa no Google é suficiente para se ter uma dimensão dos dados que são mantidos sobre as mulheres negras neste país. Como efeito dessa estrutura, também fiquei presa a essa visão simplista, acreditando por tanto tempo que certos lugares eram meus e outros não. Lélia Gonzales também nos ensina sobre isso, que há lugares socialmente demarcados para as mulheres negras em sociedades colonizadas como o Brasil, a saber: a "mulata" - objeto de objetificação; a Mãe Preta - o lugar do cuidado permanente com o Outro por meio do apagamento de si; e/ou a Doméstica - aquela que seria "quase da família", mas que só serve para servir e nunca se senta à mesa. Certamente, como esses são os lugares que nos destinam e condicionam, as áreas de tecnologia também aparecem e se fixam em nossa imaginação como lugares distantes e inacessíveis.

Apesar de todo o racismo, fiz o ensino superior e obtive meu mestrado. Aos 25 anos, eu já era bacharel em Serviço Social e mestre em Políticas Sociais pela Universidade de Brasília. Esse lugar é uma exceção, se considerarmos a situação da população negra brasileira, que só foi possível com as conquistas do movimento negro. Também por causa do movimento negro, minha educação não foi desracializada. No quarto semestre de minha graduação, tive meu primeiro módulo sobre questões raciais com um professor ...